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Tô toda boba, metida mesmo...afinal, não é todo dia que a gente está com um reizinho (Rainha!! Rainha!!) crescendo na barriga da gente!!

terça-feira, 3 de maio de 2011

O MEU PARTO
Demorei mais de sete meses para conseguir superar alguns fantasmas internos e, finalmente, contar como nasceu minha princesinha Isabel. Senta que lá vem a história.

Gestando um bebê, definindo um parto
Desde antes, muito antes de engravidar, eu sabia que não queria uma cesariana. Por que? Simplesmente porque sempre acreditei nos meus instintos, e na perfeição do meu corpo. Aliás, na perfeição da natureza humana. Durante toda a minha vida, sempre optei por atitudes que me aproximassem de um estilo de vida mais natural. O nascimento dos meus filhos não seria diferente.

Nos meses que antecederam minha gravidez, o assunto simplesmente tomou conta da minha mente. Pesquisei na internet e descobri que mais do que o parto normal hospitalar, era possível evitar as intervenções (tinha verdadeiro pavor da episiotomia). Um dia falei pro meu pai "meu filho vai nascer comigo de cócoras". Pronto, estava decidido.

E eis que, numa inesquecível manhã na Bahia, o teste de farmácia confirmou: eu estava grávida. Junto ocm o susto feliz, a emoção do primeiro abraço a três, o delicado "eu vou cuidar de vocês dois" vindo do marido ainda meio em choque, veio aquele frenesi: muito a fazer/pesquisar/descobrir em nove meses.

De volta ao Rio, cabeça a mil, dividi minha atenção entre as buscas por um novo apartamento em que coubesse o quartinho do neném, as pesquisas sobre o tal do "parto sem intervenções" e as deliciosas descobertas desse serzinho que crescia dentro de mim.

Achei logo no início esse site, que passei a visitar com uma frequencia quase religiosa. E sempre que vinha mais um relato de parto eu pensava que era isso que eu queria para mim e para meu neném (pois é. Eu tinha certeza de que era um menino...). Eu precisava, portanto, de uma doula.

A internet me lvou até a querida Ana. Nosso primeiro papo, por telefone, me trouxe uma tranquilidade enorme. Não via a hora de vê-la pessoalmente. Não procurei mais ninguém. Decidi que ela seria a minha doula. A primeira reunião na nossa casa só confirmou minha certeza. Aquela moça jovem, de olhar carinhoso, sorriso manso e jeitinho de mãe cuidaria muito bem de mim e do meu neném. E do maridão, obviamente.

Em paralelo, procurei o meu ginecologista para iniciar o pré-natal. Já de cara ele disse que eu não poderia "sofrer" um parto normal, que eu era frágil demais para isso. Eu tinha, portanto, que trocar de médico. Marcamos uma consulta com um doutor-famoso-por-seus-partos-naturais. AMEI o cara. Mas consideramos caro demais. As buscas continuavam.

A Ana me sugeriu outra médica, menos famosa. Liguei, marquei uma consulta, fui. Gostei. Quanto falei do parto normal, ela simplesmente sorriu e disse "claro!". Pronto! Me encontrei.

Estava decidido: meu neném nasceria em um parto natural hospitalar, com o mínimo de intervenções que fosse possível.

Foi quando a Ana (sempre a Ana...) nos convidou para participar das reuniões do Ishtar. Fomos. Gostamos. Começamos a frequentar as reuniões. Confesso que eu mais ouvia do que falava. E na volta para casa, discutia com o marido. As dúvidas (foram muitas) eram tiradas ou com a Ana, ou com pesquisas pela internet. Li muitos livros sobre o assunto, comecei a fazer alongamentos e agachamentos em casa, retomei os exercícios de pompoar. Queria parir de cócoras.

Lá pela 30ª semana, começamos a pensar seriamente no plano de parto. Na reunião do Ishtar, ganhamos alguns modelos, a Ana nos mandou outro por e-mail, e eu mesma encontrei mais um num livro. Junta tudo, senta e discute com o marido. Pergunta isso pra Ana, aquilo pra médica...anestesia? Não. Episio? Ai credo! NÃO!! Indução? Não. Injeções no bebê? Posição fixa? Luz forte? Não, não e não.

Foram tantos "nãos" que lá pelas tantas o marido perguntou o que raios a gente ia fazer no hospital, se não queríamos nada do que eles tinham para oferecer.

Frio na barriga.
Então vamos ter em casa?
Ui!
Vamos, uai.

Mesmo tremendo na base, escrevi um e-mail para a Ana contando nossa idéia maluca. Ela respondeu com festa. Se disse orgulhosa de mim, do marido, dela mesma... E lembrou que precisávamos de uma parteira. Agora faltava contar a novidade pra médica.

OK. A médica não disse que não...mas também não disse que sim. Falou que eu que decidia, que ela não via problema, mas que tudo tinha que ser feito com cuidado...e me deu uma lista de parteiras para eu escolher.

Liguei para a primeira, uma bam-bam-bam do assunto, super famosa...e ODIEI. Mulher mais metida, mandona. Quero não. Liguei para a parteira indicada pela Ana. Gostei, marquei a primeira reunião. Primeiro erro: o marido não estava presente nessa reunião. Eu gostei dela. Para falar a verdade, àquela altura, eu achava que não precisaria de mais ninguém comigo. Eu daria conta sozinha.

O tempo passou rápido: nos mudamos, corri com os preparativos para o quartinho estar pronto, chá de bebê... a segunda reunião com a parteira demorou a acontecer. Mas o marido tinha que conhecê-la. Quando finalmente houve a reunião, ele simplesmente odiou. Para piorar, na consulta com a médica, ela disse que não trabalharia com aquela parteira. Que teríamos que escolher entre a perteira e a médica.

Amarelei.

Segundo erro: contamos para nossas famílias que a Bel (pois é! Uma menina...) nasceria em casa. Fui bombardeada com palavras de desânimo. Todos preocupados, tentando me demover daquela idéia maluca.

Amarelei (2).

E foi assim que, aos 45 do segundo tempo, mudei de parteira para uma das indicadas pela médica. Esse, a meu ver, foi o terceiro e pior erro. Mas a gente fica meio abobada no fim da gravidez. E eu queria segurança para mim e pra neném...e, na minha cabeça, segurança era ter o apoio da médica.

A nova parteira (simpática, sorridente e muito agradável) disse que precisaria de uma ajudante. E sugeriu que fosse a tal bam-bam-bam que eu tinha odiado sete parágrafos antes. Não gostei, pedi que fosse outra pessoa. A parteira insistiu. E eu cedi. Quarto erro? Não sei dizer. Sei que foi assim que eu cheguei à minha 40ª semana...

Eu disse que a tal parteira-bam-bam-bam queria que eu abrisse mão da fofa Ana? Hunft. Isso de jeito nenhum!! O lance é que a mulher era mesmo muito mandona.

Alô, povão, agora é sério! CHEGOU A HOOOOORA!!
Bom, 40ª semana e alguns dias. Pródromos!! Um incomodozinho na lombar, perfeitamente suportável. Reunião de trabalho (a última), contraçõezinhas. Missa no domingo. Contraçõezinhas. Chorei de emoção, sentindo que a Bel tava chegando.

Corri para comprar/fazer/lembrar de tudo o que ainda faltava. Fomos ao mercado. No caminho, eu tinha que parar e agarrar o marido para aguentar as contrações, já não tão fracas assim. Um rapaz ofereceu ajuda e meu marido respondeu com toda a calma "tá tudo bem, é que ela está em trabalho de parto, isso é só uma contração". O cara ficou branco, verde, amarelo com bolinhas. A gente só riu.

Compramos um mooooonte de fraldas, absorvente pós-parto, frutas, iogurtes e Ades. Na volta, disse que não aguentava andar e pegamos um taxi. Sentar no banco do carro foi A PIOR dor que já senti. E olha que as contrações ainda estavam leves. Juro que não sei como as mulheres aguentam sentar para ir pro hospital no fim do trabalho de parto.

Desisti de me confessar (eu queria estar pura quando a Bel chegasse) e fomos logo para casa. Acho que eram umas 19 ou 20 horas do dia 28/setembro. Já tinhamos falado com a Ana, com a médica e com a parteira. A Ana foi pra lá, a médica ficou acompanhando por telefone e a parteira disse que iria no dia seguinte.

Eu, logo eu, tão instintiva, tão segura, tão conhecedora do meu corpo, tive muita dificuldade para deixar a coisa fluir. Eu não relaxava, não parava de pensar, me preocupava se a Ana estava confortável (afinal, ela estava na minha casa), se meu marido estava nervoso, se devia ou não ligar pra minha mãe. O tempo passava, as contrações iam e vinham meio sem ritmo definido...e eu preocupada se deveria ou não gritar, se podia assumir esta ou aquela posição.

E a noite foi assim.

E o dia amanheceu.

Pausa para falar da contração
Dói? Muuuito!!

É insuportável? Sim e não.
Ela começa fraquinha, aumenta, aumenta, aumenta, AUMENTA! ACHO QUE VOU MORRER!!! Diminui, diminui, diminui e...passa! Totalmente. Entre uma e outra, é como se nadica de nada estivesse acontecendo.

/pausa

A tal da assistente-bam-bam-bam-mandona chegou antes da parteira. OK. Eu obrevivo. Ela não é importante, minha neném tá chegando.

O dia passou todo meio assim. Eu comi muita fruta, bebi muita água, as contrações vinham, iam, e eu, francamente, não sabia se a ciosa estava engrenando como deveria. Lembro de ter perguntado pra Ana se estava tudo normal. Estava.

Que delícia os carinhos do marido, que alívio as massagens da Ana! Sem esses dois, eu não teria conseguido não.

Daqui pra frente, é como se eu estivesse meio drogada. Lembro que rezei, lembro que me irritei, ri e chorei, xinguei e fui meiga. Lembro de ter gritado "Chegaaaa! Cansei da brincadeira! Quero uma cesáreaaa!" e de no minuto seguinte ter brigado com o marido que me ofereceu um analgésico. Em algum momento a parteira chegou, e a assistente mandona sumiu.

Ah!! E eu fiz xixi. Muito xixi. Muito xixi MESMO.

De repente, no meio do xixi, veio uma vontadinha de fazer cocô. Mas o cocô não saía. Pensei logo que eu ia passar pelo constrangimento de fazer cocô na hora que a Bel estivesse nascendo. Céus. Que mico! Travei.

Me tranquei no banheiro um monte de vezes, fiz força e nada do tal "cocô" sair. Envergonhada, não contei pra ninguém o que tava rolando.

As dores agora estavam diferentes, e eu tinha vontade de ficar numas posições meio esquisitas. E a vontade de fazer força crescia em mim (cocô? neném? Sei lá...)

E eu comia e comia e comia. Parecia uma draga destruidora de frutas e iogurte.

Banho quente alivia. Quero andar (Ana foi comigo pro play). Que dor nas costas (Ana apertou minha lombar...ufa!). Que medo! (marido abraçou gostoso).

No meio de um dos inúmeros banhos quentes, uma vontade incontrolável de fazer força fiz muita força, vocalizei com vontade.

Saí do banho. Não conseguia ficar em pé. Sentei no vaso e...fiz força. Todo mundo cochichando, a parteira ligou para alguém. Depois ela veio e falou baixinho para eu sentar na banqueta de cócoras. Não queria. Senti muita dor quando sentei nela algumas horas antes. O que eu queria? Mel. Alguém me dá uma colher de mel?

A parteira, com carinho, me disse "A Isabel está nascendo. Se você quiser ficar no vaso, vai ficar. Mas ela vai nascer e cair na água do vaso sanitário. É isso o que você quer?"

Não. Não era. Sentei na banqueta. Ana sentou no vaso, atrás de mim, e me segurou pelas costas. Cadê meu mel? Marido trouxe a colher. Alguém falou para eu colocar a mão e sentir a cabecinha dela. Coloquei a mão e senti algo viscoso, molenga...não, aquilo não podia ser a cabeça da Bel.

Que vontade de fazer força! Tá tudo ardendo!! Eu li sobre isso! É o "círculo de fogo!!" A Bel tá vindo fooooorça! Tá na metade. Que sede!! Amor, me dá um copo de Ades? Alguém disse para eu fazer força de novo. Não. Agora eu quero um copo de Ades.

E foi assim, Bel metade dentro, metade fora, que eu tomei meu Ades. Ana deu o lugar dela para o Fabio, que me segurou por trás. Agora sim, de novo fooooorça!!! Plof!

Acabou?
Não?

Descansa.
Foooooooorçaaaa!!! Plof plof!

Nasceu com bolsa e tudo! Encapsulada! Que raro, que mágico, que especial. a parteira pegou a Bel, rompeu com o dedo a bolsa e me entregou aquela coisinha tão linda, tão branca, tão pequena...e tão chorona! Levanteia, para mostrar ao Marido que, entre lágrimas, louvava ao Senhor a plenos pulmões. Abracei aquela coisinha melecadinha, linda, perfeita. Não consegui levá-la ao seio. Doeu, como se o cordão repuxasse dentro de mim. Mantive a neném na altura da barriga.

Eram cerca de 21 horas do dia 29 de setembro. Fui para a cama, cansada, feliz, bêbada. Minha filha na minha barriga, mas agora por fora. Quando o cordão parou de pulsar e foi cortado, puxei-a para o peito e ela mamou.

Queria que minhas lembranças parassem aqui. Mas...

O dia seguinte
Acordei o sol já ia alto. A neném acordou uma vez só naquela noite, tão cansada quanto eu. Mamou e todos dormimos. À noite, senti um sangramento que me assutou. Ligamos para a parteira, que disse que era normal.

Eu senti algo diferente, único, especial! Eu pari!!! Eu consegui!! Sem episio, sem anestesia. Uma laceraçãozinha besta, na lateral da vagina e só. Minha filha era linda, perfeita, sadia. O mundo é perfeito, Deus é bom.

Mamis, papis e mana chegaram lá, viram minha pequena, Mamis lhe trocou a fralda (vexame...eu estava tão cansada que nem me ocorreu trocá-la de madrugada...). A parteira chegou para me examinar. O telefone não parava um minuto. Marido ligava para avisar do nascimento, pessoas ligavam querendo notícias...

Quando a parteira apertou minha barriga saiu um coágulo do tamanho de uma laranja. Isso é normal? Não muito. Toma um banho que eu vou com você para o hospital por garantia. Me ajuda a levantar?

Levantei, dei um único passo e...saiu um coágulo do tamanho da placenta. Meu marido fez cara de nojo por causa do cheiro. Eu me virei para rir da cara dele e...começou meu pesadelo.

Sentei na cama meio zonza, percebi correria, gritos movimentação à minha volta. Alguém pressionava algo (acho que era um lençol, ou toalha) contra a minha vagina. Ficou tudo preto. A parteira ligou para alguém e gritou "Emergência! Emergência! Paciente convulcionando!"

Eu só pensava na Bel. Ela vai se assustar.

-Chama ambulância!
-Calma gente, eu tô bem.
-A ambulância não chega. Vamos de carro mesmo.
-Mãe, cuida da minha filha pra mim?

Me colocaram num lençol, me levaram no carro da parteira para o hospital. Todos nervosos. O Marido me pediu "não morre!" Não vou morrer, fica calmo.

Hospital, injeção, transferência, ambulância, cadê minha filha? Ela tem que mamar!

Novo hospital, transfusão, exames. Pelo telefone, minha irmã dizia que minha filha estava bem e dormindo. Ela tem que mamar.

Só amamentei novamente à noitinha. Tadinha da Bel. Um parto tão lindo, e um primeiro dia de vida tão tumultuado. Três dias internada, três dias antes de poder trocar a primeira fralda. Não vi o mecônio dela...ninguém me mostrou.

Não pude andar logo depois do parto, fiquei debilitada mais de um mês. O que aconteceu? Até hoje não sei.

Reflexões
É muito fácil culpar a parteira, ou a médica, ou o parto domiciliar. Eu mesma fiz isso por um tempo. Mas já fiz as pazes com o meu parto. Afinal, o parto em si foi lindo.

Se pudesse voltar no tempo, não teria trocado de parteira em cima da hora. Até porque, eu não estava 100% confiante nessa troca. Mas não troco meu parto domiciliar por nenhum outro parto. E se eu engravidar de novo, vou querer parir em casa novamente. Dessa vez, vou procurar um médico que fique lá comigo e não apenas acompanhe por telefone.

Afinal, Eu pari. Eu consegui. Sem anestesia. Sem epísio. Eu sou uma mulher completa e valente.
Valeu a pena.

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