DIGNIDADE
Saí do trabalho já bem tarde. Mesmo assim, o ponto de ônibus estava relativamente cheio. No banco estavam sentadas duas moças nos seus 20 e poucos anos, arrumadinhas e serelepes como convém à pouca idade, e um senhor com cara (e cheiro) de mendigo, exibindo uma perna bem ferida.
Foi esse cenário que eu e a (não tão) microbarriga vimos quando chegamos.
As moças me viram chegar. Pararam sua conversa por alguns instantes, analisaram minha barriga, se entreolharam e continuaram a conversar, sem fazer nenhuma menção de oferecer o lugar para a gestante aqui.
O mendigo também me viu chegar. Olhou para mim, depois para elas, outra vez para mim... refletiu alguns instantes, olhou com pesar para sua perna ferida e me chamou: "Menina, venha cá. Sente aqui no meu lugar. Apesar de tudo, eu ainda não perdi a minha dignidade e posso sim te oferecer meu assento."
Sorri para ele e respondi que se a gente apertasse, ele nem precisava levantar. Foi a vez dele sorrir.
Não vou dizer que foi fácil para meu super apurado olfato de grávida ficar tão perto daquele senhor. Mas mentalmente, agradeci a Deus por aquela oportunidade de ele lembrar que, apesar de tudo, ele ainda tinha a dignidade dele.
As moças? Fizeram careta, não se levantaram e continuaram seu papo animado, ignorando a mim e ao meu digno acompanhante.
Um comentário:
tomara que daqui uns anos, aquelas meninas nao depedam da dignidade de outras pra descansar o peso da barriga...
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